Tocar nos corpos para machucá-los e matar. Tal foi a infeliz, pecaminosa e brutal função de funcionários do Estado em nossa pátria brasileira após o golpe militar de 1964.
Tocar nos corpos para destruí-los psicologicamente e humanamente. Tal foi a tarefa ignominiosa de alguns profissionais da Medicina e de grupos militares e paramilitares durante 16 anos em nosso pais. Tarefa que acabamos exportando ao Chile, Uruguai e Argentina. Ensinamos outros a destruir e a matar. Lentamente e sem piedade. Sem ética nem humanismo.
Macular pessoas e identidades. Perseguir líderes políticos homens e mulheres, em sua maioria jovens.
É destas dores que trata este livro. É desta triste história que nos falam estas tristes páginas marcadas de sangue e de dor (...)
Este é um livro de dor. É um memorial de melancolias. Um livro que fere, e machuca mentes e corações. Um livro para fazer pensar e fazer mudar o que deve ainda ser mudado e pensado em favor da vida e da verdade.
Mas também um livro que faça a verdade falar, gritar e surgir como o sol em nossa terra. Um livro que traga muita luz e esclarecimento nos anos que virão.
Um livro, vários brados, uma certeza verdadeira. Nunca mais a escuridão e as trevas. Nunca mais ao medo e à ditadura. Nunca mais à exclusão e à tortura. Nunca mais à morte. Um sim à vida.
São Paulo, 21 de novembro de 1994.
Paulo Evaristo, CARDEAL ARNS
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário